Depressão é Doença?

Depressão é doença. E põe doença nisso!!


Gerada por evidente desequilíbrio no funcionamento cerebral, a depressão desativa a capacidade de perceber e sentir prazer, instala uma tristeza pouco direcionada e sem fim, limita o poder de reação, perturba o andamento hormonal, distorce funções basais como sono, alimentação, nubla versões otimistas de futuro e compromete a performance do indivíduo, da unidade familiar e de toda a sociedade.

Se pneumonia é doença, e ninguém discute isso, depressão é doença ao quadrado. É crônica, sorrateira e leva a sofrimentos múltiplos, desconfortos físicos e mentais, um sistema vicioso de frustração, redução de auto estima e progressivo desapego à vida e as ditas “coisas da vida”. A depressão em formas intensas impõe a sobrevivência fria e desancorada, a falta de amplificação de prazer instala uma existência nua, crua e difícil de engolir. O mundo não desce, as relações interpessoais não convencem e a vida torna-se uma sequencia interminável de vivências insossas e sem sentido.

Uma doença cerebral orgânica, real, inequívoca, palpável, frequente e pouco valorizada. Depressão não é tristeza !! Por isso não se trata como tristeza. Não adianta falar para alguém depressivo como sua vida é bela, como tem gente em situação pior, ou leva-lo para o cinema. O buraco é mais embaixo. A inércia emocional limita a percepção e a reação ao prazer.

Tristeza tem motivo, proporção, direcionamento e tempo para acabar, tristeza é sinal de saúde, inteligência, amadurecimento e aprendizado. Depressão é um conjunto muito mais complexo de alterações emocionais, cognitivas, comportamentais, sem prazo de duração, de intensidade variável e desproporcional aos aspectos ambientais vigentes. Muitos dos que julgam pessoas deprimidas e desvalorizam seus sintomas, entendem de tristeza, mas não sabem nada de depressão. Muito do preconceito ignorante é fruto de pessoas que nunca tiveram um dia sequer depressivo (apesar de terem tido dias tristes), mas insistem em medir o sentimento dos outros com sua régua distorcida e válida apenas para si.

O cérebro humano evoluiu com sensores e mecanismos de proteção, de modo e defender a pessoa e a espécie. Nosso cérebro pinta vivências positivas com cores vivas, o cérebro transforma o mundo real e inventa o prazer. Para isso existem redes e transmissores específicos. Liberamos dopamina, serotonina, endorfinas, adrenalina, em regiões específicas e ocasiões específicas.

Nosso cérebro injeta felicidade aos nossos dias, abranda nosso sofrimento real e nos dá um apego biológico à vida e a nossa existência. Quando essa função falha, pronto! Estamos doentes. Por exemplo, quando comemos um alimento calórico, sentimos prazer, quando fazemos sexo também, quando conquistamos algo, e por aí vai. Nosso cérebro trabalha arduamente para manter a recompensa mental, a autoestima, para gerar e perceber empatia, para manter a motivação e o entusiasmo, para confiar e expectar um futuro melhor, enfim … e isso tudo não nasce do nada, são fenômenos biológicos complexos e gerados por mecanismos potentes.

Na depressão o sistema está desregulado, a vida perde a maquiagem da percepção cerebral de prazer, depressivos sentem o peso real do mundo real. Tudo fica cinza, empobrecido, sem graça, a vida vira um amontoado de eventos sem razão. Vejo a depressão como uma insuficiência cerebral, emocional, a redução funcional de um sistema que garante a saúde e a vida como conhecermos, com a percepção ou, pelo menos, a busca pelo prazer e a felicidade.

Se o rim para, corremos para um médico, se o coração fica fraco, ninguém tem dúvidas em ir ao cardiologista, insuficiência do fígado ? Deve ser grave… que baita injustiça com o Cérebro. Negligenciamos nossa insuficiência emocional.
Depressão é definitivamente uma doença, com todas as letras. Deve ser diagnosticada, mensurada e tratada rápida e agressivamente. Gera impactos imediatos e a longo prazo, dispara uma cascata patológica de eventos que leva à outras doenças e adoece todo o contexto socioambiental do portador. O tratamento é complexo, longo, deve ser personalizado e inclui medidas medicamentosas e não medicamentosas.

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