Sarcoma de Kaposi

O sarcoma de Kaposi é um tumor maligno do endotélio vascular. A enfermidade foi descrita pelo médico húngaro Moritz Kaposi em 1872 em Viena, dando-lhe o nome de "sarcoma múltiplo pigmentado idiopático".

Os seus sinais são lesões de cor arroxeada, planas ou elevadas e com uma forma irregular, hemorragias (quando causadas por lesões gastro-intestinais), dificuldade de respirar (quando causada por lesões pulmonares) e escarros com sangue (também pelas lesões pulmonares).

HISTÓRIA


Entre as décadas de 1950 e 1960, descreveu-se em forma endêmica na África Central. Em 1970, associou-se com estados imunodeprimidos iatrogênicos (pacientes transplantados, etc).

Em 1980/81, a aparição de vários casos em homens homossexuais marcou o primeiro alarme em relação a uma nova epidemia identificada, a sida (ou AIDS). Detectaram-se partículas virais do tipo herpético em tecidos e em biopsias. Também se reconheceram elementos que não o vinculavam ao citomegalovírus (CMV), detectando-se antigênios moderados tardios, CMV DNA e CMV RNA em cultivos de células de Sarcoma de Kaposi por diversos métodos.

Em 1994 Chang e outros autores, demonstraram finalmente a presença de um vírus herpes associado chamado VHH-8 ou KSHV (Kaposi's sarcoma herpes virus), e rapidamente foi decifrada a sequência genética.

Investigações posteriores têm produzido um importante conjunto de conhecimentos sobre o vírus e sobre as patologias que produz, sendo esta apenas uma. A prevalência deste vírus é muito grande (cerca de 50%) em algumas populações africanas, situando-se ente os 2 e os 8% para o conjunto da população mundial. O sarcoma de Kaposi só se desenvolve quando o sistema imunitário está deprimido, como ocorre na sida, o que parece associada a uma variante específica.

TIPOS

O sarcoma de Kaposi, segundo A. Gessain (2005), apresenta-se em quatro formas epidemiológicas com desenvolvimentos clínicos distintos, nos diferentes grupos susceptíveis.

  • A forma clássica foi a primeira a ser descrita. Esta forma afecta sobretudo os homens (cinco a quinze vezes mais que as mulheres) com mais de 60 anos. É conhecido nas regiões orientais do Mediterrâneo, sobretudo as penínsulas Itálica e Balcânica e as ilhas gregas. A incidência observada nestas últimas entre os homens infectados por VHH-8 é de aproximadamente 1/3500. A patologia apresenta-se em forma cutânea, afectando sobretudo os membros inferiores e é indolente (não provoca dor).

  • A forma endémica foi descrita a partir da década de 1950 como uma das formas mais frequentes de cancro na África Central e Oriental. Em homens de idade avançada o curso pode ser semelhante à forma clássica, mas em pessoas mais jovens apresenta-se como um cancro muito mais agressivo, disseminado, com lesões multifocais (distribuídas) que no mínimo implicam as vísceras e afectando os gânglios linfáticos. Uma forma rara (5% dos casos) afecta crianças com a mesma frequência para ambos os sexos. Nessas regiões onde a seroprevalência do VHH-8 (reveladora da taxa de infecção) supera pelo menos os 50% nos homens adultos. Não obstante não há uma correlação perfeita entre os parâmetros, sendo a incidência baixa em algumas regiões onde a prevalência é extrema.

  • A forma pós-transplante começou a observar-se na década de 1970 em pacientes de transplante, sobretudo de rins, submetidos a tratamentos imunodepressores, como os que são usados para evitar a rejeição. A incidência do Sarcoma de Kaposi é nestas pessoas superior a 500 ou 1000 vezes a encontrada na população em geral. A infecção pelo VHH-8 pode ser anterior ao trasplante ou uma das consequências do mesmo.

  • A quarta forma é a associada ao HIV. Foi precisamente a ocorrência em um curto espaço de tempo, de um número inusitado de casos entre homens da Califórnia (Estados Unidos da América) que alertou para o aparecimento da Sida ou AIDS. Nos países desenvolvidos a introdução de terapias antiretrovirais altamente activas reduziram a sua incidência, mas nos países com a prevalência de ambos os vírus (VHH-8 e VIH) e os recursos sanitários escassos, o Sarcoma de Kaposi converteu-se na forma de cancro mais comum, representando em alguns casos mais de 50% dos cancros. Em Odontologia, esta forma do Sarcoma também é utilizado no diagnóstico do HIV, por verificação de pústula na cavidade oral.
Não se observam diferenças histológicas e imuno-histoquímicas entre as diferentes formas epidemiológicas, sendo as diferenças observadas mais importantes as relativas ao grau de desenvolvimento da lesão.


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