Como Agir Diante de uma Convulsão?

Abordaremos nesse texto a conduta (do leigo) diante de uma crise convulsiva. Antes de discutir a conduta em si é necessário reconhecer a crise e entender seus ricos à saúde do paciente.


Bom, a crise convulsiva é um dos tipos de crise epiléptica, é o tipo mais intenso; o paciente perda a consciência (desmaia, não responde aos estímulos externos), cai no chão e se debate. Dependendo do tipo de epilepsia o paciente pode sentir algo antecedendo a convulsão, um formigamento, um mal estar geral, contrações em determinada região do corpo e isso evoluir para uma convulsão. Outros pacientes apresentam convulsões sem nenhum aviso identificável.

Além da perda de consciência e as contrações involuntárias nos membros o paciente pode apresentar aumento as salivação, alteração da coloração da pele (que pode ficar mais arroxeada, principalmente na região ao redor dos lábios). O paciente pode morder a língua, geralmente em sua base, na região mais posterior (com isso pode haver sangue misturado com a saliva do paciente. Os olhos geralmente ficam entreabertos mas não fixam nenhum objeto (sendo descritos comumente com revirados). Pode haver perda de urina, principalmente na fase final da crise.

Após o término da crise o paciente tem recuperação gradual, podendo ficar confuso, um pouco sonolento e por vezes até agressivo. Geralmente refere dores no corpo ou mesmo de cabeça. Essa fase de recuperação pode durar de 10 – 15 minutos até algumas horas.

Uma vez reconhecida a convulsão vamos falar um pouco sobre como reagir diante dela. É preciso ter em mente que a convulsão é um evento auto-limitado. Dura geralmente entre 1 e 3 minutos. A crise começa, atinge seu ápice e cessa espontaneamente. Sendo que o paciente pode ficar sonolento ainda por um bom tempo após a crise. (falando até parece um evento rápido – 1 a 3 minutos de duração – mas diante de uma convulsão 3 minutos se tornam uma eternidade —- a percepção do tempo é outra).

É extremamente raro uma crise que ultrapassa os 5 minutos, sendo nessas casos necessária a participação de um profissional habilitado e eventualmente utilização de medicação endovenosa.

Sendo a crise um evento geralmente auto-limitado a pessoa que está ajudando o paciente não deve se preocupar em abortar a crise em si e sim em proteger o paciente enquanto ele está mais vulnerável esperando a crise cessar espontaneamente.

Duas preocupações são pertinentes:

1- O risco de traumatismos: uma vez que o paciente está inconsciente e apresentando contrações musculares vigorosas. Neste ponto a preocupação principal é com traumas na região da cabeça. Então na medida do possível deve-se tentar proteger o paciente desses traumatismos. Para tal devemos afastar todo e qualquer objeto do perímetro próximo do paciente, dando espaço suficiente para não ameaça a integridade fica do paciente em crise. Se necessários a cabeça pode ser suavemente contida, com as mãos, para evitar ferimentos nessa região mais nobre.

2- O proteção da via aérea: o paciente durante a crise pode ter alguma dificuldade de respiração que é decorrente de vários fatores:

A incoordenação dos músculos respiratórios, devido a própria crise em si. Por isso o paciente parece bastante ofegante durante o episódio e a pele fica mais arroxeada. Aliado a isso pode haver algum tipo de restrição ao fluxo de ar devido ao acúmulo de saliva e sangue dentro da boca.

Uma preocupação frequentemente relatada por leigos é o risco do paciente enrrolar a língua. Isso leva a condutas absolutamente contra-indicadas e leva risco ao paciente e ao atendente (mesmo com a melhor das intenções).

A língua não enrrola sobre si mesma durante a crise, isso é anatomicamente impossível. O que pode ocorrer em alguns casos é a queda da base da língua causada pelo peso da língua e a inconsciência do paciente. Isso é minimizado virando o paciente de lado.

Não devemos tentar tracionar a língua do paciente durante a crise, por diversos motivos.

1- Existe risco para o atendente = a introdução da mão dentro da cavidade bucal de alguém em crise leva a risco de lesões graves decorrentes de mordida involuntária (que pode ser extremamente potente). Além disso há risco infeccioso, uma vez que há sangue e saliva misturados, podendo transmitir agentes ao atendente. Portanto, não se deve introduzir a mão dentro da boca do paciente. Além de inefetivo é perigoso.

Algumas pessoas cientes do risco de lesão do atendente opta por introduzir objetos rígidos na boca do paciente a fim de afastar os dentes e manter a via aérea patente. Novamente é uma conduta inadequada. Ocorre risco de lesões dentária e gengivais graves, uma vez que a mordida associada à convulsão é muito forte. Dentes podem ser destruídos e fragmentos podem acabar entrando na via aérea, piorando o estado de saúde do paciente. Portanto, jamais introduza objetos rígidos na boca de alguém com crise.

Certo… se não podemos introduzir a mão na boca do paciente e nem objetos rígidos, como podemos ajudar na desobstrução da via aérea.

O ideal é que, estando longe de aparelhos hospitalares apropriados para aspiração de secreção e abordagem de via aérea, o atendente apenas vire o paciente de lado e coloque uma toalha ou um pano próximo à boca para conter as secreções.

Nesta situação = paciente seguro contra trauma, virado levemente de lado e com um pano próximo a boca = cabe ao atendente esperar o processo cessar e aguardar ajuda.

Como se vê é mais importante saber o NÃO fazer do que propriamente o que se DEVE fazer. (a principal medida é não piorar o cenário).

Ainda sob essa óptica é importante ressaltar que NÃO se deve dar remédio ao paciente durante ou logo após a crise. Durante a crise o paciente está inapto a deglutição, o risco do medicamento cair na via respiratória ao invés do trato digestivo é muito alto. Do mesmo modo, logo após a crise a sonolência do paciente pode limitar sua capacidade de deglutir com segurança. Além do risco, o benefício de dar o remédio durante ou logo após a crise é mínimo, uma vez que o tempo de absorção de uma medicação via oral é de muitos minutos a horas, não havendo qualquer impacto para aquele episódio em si.

Após o término da crise é importante respeitar o período pós crítico, aonde o paciente pode manifestar certa confusão mental e mesmo alguma agressividade. Tente manter a calma e não tente conter fisicamente o paciente, isso pode deixá-lo ainda mais agressivo. Aguarda tranquilamente a recuperação do paciente.

Sendo a primeira crise convulsiva do paciente, este deverá ser conduzido até uma unidade de pronto atendimento para ser avaliado e realizar alguns exames. Caso o paciente tenha epilepsia já diagnosticada a condução dependerá das orientações do médico que acompanha o paciente.

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